Como era deliciosa essa época de festas naquela casa!
Os preparativos começavam muito antes, minha mãe chamava o faxineiro do banco em que meu pai trabalhava para retirar as coisas guardadas no forro da casa. Aliás esse forro era para mim um mistério muito fascinante, o acesso era por uma claraboia que ficava sobre a escada de acesso à casa e atrás daquela esquadria de madeira com vidro pontilhado parece que existia um outro mundo que eu não sabia bem onde terminava ou o que era capaz de conter!
Tio Pepino enviava uma madeira grande que era colocada sobre a comoda da sala para poder ampliar o espaço onde seria montado o presépio.
Tomadas essas providencias entrava em ação minha mãe retirando uma infinidade de estatuetas e miniaturas de casinhas e outros objetos que comporiam aquele cenário e usando uns papéis que imitavam pedras começava a aparecer uma "Belém" rica em detalhes: os espelhos com pedrinhas em volta faziam surgir laguinhos onde os patinhos ganhavam personalidade como se estivessem nadando de verdade, as casinhas nas montanhas com luzinhas dentro sugerindo, pelo menos em minhas fantasias, a existência de famílias habitando aqueles remotos lugares, as dezenas de animais sobre a serragem e é claro a cena central do menino Jesus na manjedoura admirado pelos pais e pelos reis magos levando seus presentes.
Terminada essa montagem (em geral durava uns dois dias) era a vez da arvore de natal toda adornada com enfeites coloridos e espelhados meticulosamente arrumados em seus devidos lugares ... que vontade eu sentia de entrar naquelas bolas para ver tudo daquela cor! Mas a operação só estaria concluída quando uma "enorme" bola vermelha era dependurada na saída do corredor para a sala.
Pronto agora podíamos esperar o papai noel e enquanto isso receber as cestas de natal que meu pai ganhava dos cerealistas clientes do banco. O aroma daquela palha usada para proteger as garrafas de bebidas im portadas e outras latas e vidros era inconfundível, até hoje sinto esse perfume! De onde viriam tantas coisas coloridas e bonitas que iam saindo de dentro daquelas fabricas de sonhos? Por que meu pai era tão importante? Papai Noel atenderia meus pedidos? Quantas perguntas na cabeça daquele menino de cinco ou seis anos...
Agora era tempo de curtir aquela espera até a missa do galo que íamos assistir na igreja da rua Tenente Azevedo ao lado da casa do tio Vito logo após as comemorações do aniversario da minha prima Mariana Cristina. Essa rua tinha uma outra particularidade muito incrível, uma fabrica de estatuetas de presépio da qual eu não cansava de respirar um aroma de tinta delicioso ( acho que tintas não são tóxicas para crianças, rs).
Voltando da missa era hora de deitar e ficar bem quietinho tentando permanecer acordado para ver o papai noel, mas que droga sempre pegava no sono antes do velhinho chegar, e dali a algumas horas acordar e correr para o presépio ver os presentes depositados perto dos sapatinhos deixados lá.
Uma excitação tomava conta de nós e brincávamos sem cansar até que fosse colocada a mesa de almoço imensa, ocupando a sala toda, onde sentariam as famílias que se reuniam em torno da matriarca daquele clã: minha avó Anastácia ... todos a estimavam e respeitavam, grande figura era ela!
Terminada aquela maratona gastronômica que incluía uma disputa entre meus tios para degustar os olhos dos animais assados as mulheres iam para cozinha lavar a louça e conversar enquanto os homens jogavam buraco até chegar a hora do jogo de tombola que durava até que a fome (ou gula?) nos levasse a comer o capeletti in brodo seguido de carnes requentadas, frutas secas e doces italianos deliciosos.
Deve ser por isso que me sinto tão feliz com a chegada dessa época de festas.
Deus me permita lembrar do verdadeiro homenageado dessa data!
Feliz natal a tod@s!
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